PEI e Aprendizagem: Pontes e Transcendência - CDCP - Centro de Desenvolvimento Cognitivo do Paraná

PEI e Aprendizagem: Pontes e Transcendência

O GESTOR MEDIADOR
24 de maio de 2021

PEI e Aprendizagem: Pontes e Transcendência

Meir Ben-Hur

Como podemos assegurar que os nossos estudantes apliquem o que eles aprendem nas lições de PEI em ocasiões diferentes no futuro e em lugares diferentes, em áreas acadêmicas diferentes e em outros contextos? Esta não é uma pergunta simples. Ela representa uma questão fundamental em educação, uma vez que todos concordamos que a educação é efetivada somente quando o seu impacto é generalizado. Imagine a alternativa – o que os estudantes aprenderam na escola não terá mais tarde, nenhum impacto na maneira de viver e de trabalhar. O que os estudantes atualmente aprendem com PEI não é importante apenas na escola. O que eles aprendem irá se tornar para eles e para o país um capital real num futuro imprevisível, porque os estudantes aprendem COMO APRENDER.

Nossa resposta segue a velha tradição Aristoteliana-Kantiana. Nós acreditamos que o aprendizado real modifica estruturas de pensamento e forma “pontes” abstratas, que são capazes de ligar aquelas estruturas a aplicações potenciais. A pesquisa atual, incluindo a pesquisa sobre o cérebro, confirma esta máxima. Nós somos estimulados pela teoria de Feuerstein da experiência de aprendizagem mediada, e pelo seu programa PEI, à medida em que descobrimos que Feuerstein nos fornece ingredientes críticos que nos ajudam a facilitar o aprendizado verdadeiro.

Eu vou tentar explicar o sucesso do PEI analisando três aspectos da intervenção:

o aumento das funções cognitivas e da motivação intrínseca; o desenvolvimento de sistemas metacognitivos e as “pontes” entre as diferentes áreas acadêmicas. Eu mostrarei que o programa tem por objetivo o desenvolvimento de orientações e disposições que são críticas para o desempenho acadêmico de sucesso em todas as diferentes disciplinas; eu irei reiterar que estas estruturas são melhor desenvolvidas, progressivamente, o PEI; eu irei descrever como o PEI trabalha generalizações; finalmente, eu irei demonstrar as pontes específicas entre PEI e os diferentes campos acadêmicos.


Figura 3: As três fases de um modelo de aprendizagem

I. Aumento das funções cognitivas e da motivação intrínseca

Num estudo (1994), Carl Haywood e seus colegas na Universidade de Vanderbuilt nos EUA1 testaram estudantes de segundo grau com alto e baixo desempenho escolher com tarefas retiradas dos instrumentos PEI. Ele descobriu que o nível de desempenho dos estudantes, nas tarefas de PEI, predizia o nível de rendimento escolar dos estudantes. Ele concluiu, de forma convincente, que ambos, tanto as tarefas PEI, quanto os desafios escolares, compartilham das mesmas habilidades cognitivas.

O PEI foi construído para desafiar as funções cognitivas do estudante com tarefas que variam de acordo com inúmeros parâmetros conhecidos como o Mapa Cognitivo de

1 Arbitman-Smith , Haywood, Bransford, “Avaliação de Mudança Cognitiva”, em Aprendizado e Cognição nos Mentalmente Retardados, ed. Brooks, P. H., Sperber,
R, e McCauley, C. (Hillsdale, NJ: Lawrence Erlbaum Associates, 1994), 453-63.

Feuerstein. Na verdade, pode-se analisar facilmente os campos acadêmicos de estudo por este mesmo Mapa e identificar as similaridades. As áreas acadêmicas variam em profundidade e abrangência em termos de modalidades como a numérica, verbal, gráfica, pictórica, etc; em termos de operações cognitivas como raciocínio analógico, raciocínio indutivo e dedutivo, representação visual, lógica categórica, lógica transitiva, síntese, análise, etc; elas variam em níveis de abstração e níveis de complexidade; e elas variam em termos das funções cognitivas específicas que podem estar presentes na muito longa e detalhada lista de funções que Feuerstein nos fornece.

O PARADIGMA DA TRANSFERÊNCIA

Modelo Trifásico de Treinamento para Transferência

Se, na verdade, como a pesquisa mostra, o PEI aumenta estas estruturas cognitivas, deve-se perguntar por que elas não são aumentadas através do estudo da variedade das disciplinas acadêmicas? Existe uma diferença entre o PEI e a variedade de disciplinas acadêmicas – uma diferença principal – e tem dois aspectos: Em primeiro lugar, o PEI desafia o sistema cognitivo dos estudantes de forma progressiva e com repetição suficiente, ao passo que as disciplinas acadêmicas progridem de acordo com as suas estruturas internas, geralmente às com desafios cognitivos episódicos. Em segundo lugar, o PEI fornece aos estudantes experiências de “pontes” que os auxiliam a identificar uma rede de conexões e interconexões que está sempre aumentando, entre experiências diferentes. Eu voltarei a este ponto mais adiante.

Juntamente com o aumento do sistema cognitivo, o PEI objetiva o desenvolvimento da motivação intrínseca dos estudantes para que possam lidar com os desafios cognitivos do aprendizado, solução de problemas, exploração, reflexão, etc. A motivação intrínseca não tem como objetivo as recompensas externas, mas, sim, o próprio ato de fazer. Esta é a motivação que distingue estudantes que se desenvolvem e são bem sucedidos no trabalho de outros. Sabemos que a motivação intrínseca se perpetua por si própria se os estudantes obtiverem o sucesso. Também sabemos que se eles falharem, a motivação intrínseca poderá ser destruída. Devido a sua estrutura progressiva e grande sucesso, o PEI desenvolve a motivação intrínseca dos estudantes. Na realidade, o PEI até mesmo a recupera em estudantes que sofreram uma terrível experiência de fracasso. O PEI facilita o desenvolvimento de disposições gerais e saudáveis em nossos estudantes. Devemos, também, construir “pontes” para que estas disposições possam migrar através das disciplinas.

II. Desenvolvimento de uma estrutura metacognitiva que possa suportar a generalização:

Feuerstein explica que os estudantes adquirem estruturas cognitivas quando elas são “destacadas de e independentes de a necessidade extrínseca que as2 produziu inicialmente”.

2 Feuerstein, R., Y. Rand, M. B. Hoffman, e R. Miller (1980). Enriquecimento instrumental: Um programa de intervenção para modificabilidade cognitiva. University Park Press. Baltimore.

Isto faz muito sentido. Isto pode ser a chave para responder à questão que coloquei no início desta apresentação.

Visitantes nas classes de PEI imediatamente percebem que, durante uma boa parte do tempo de aula os estudantes falam de seus trabalhos terminado. Eles analisam o que fizeram para serem bem sucedidos por que tiveram dificuldades, o que eles aprendem suas próprias experiências com o exercícios PEI sobre aprendizagem, o pensar, solução de problemas. Estas discussões são conduzidas pelas perguntas dos professores e pelas respostas dos estudantes – frequentemente inúmeras respostas diferentes. Esta discussão normalmente termina com generalizações: “Eu tenho que levar em consideração todos os dados antes de tentar resolver um problema”, “Eu preciso planejar um processo complexo”, “Antes que eu compare coisas eu devo decidir os critérios que usarei para compará-las”, “Eu preciso formular uma hipótese clara antes que possa conduzir um experimento”… e assim por diante. O processo de análise e introspecção constrói o sistema metacognitivo dos estudantes, e as conclusões geradas por ele, ou aquilo a que nos referimos como “princípios”, cria as “pontes” que são necessárias para conectar o PEI com o exterior. Tanto o sistema metacognitivo quanto as “pontes” devem, obviamente, ter um valor universal se esperamos que o trabalho acadêmico possa deles se beneficiar. Como eu já indiquei, esta universalidade é ajudada pela variação de tarefas que estão inseridas no programa PEI.

III. Aplicação de princípios em diferentes áreas acadêmicas.

Os “princípios” sobre os quais professores e estudantes de PEI falam são na realidade tão universais, que você irá perceber que eles são os mesmos, sejam os estudantes trabalhadores da indústria, crianças de escola ou cidadãos da terceira idade. “Deve-se planejar antes de realizar uma tarefa complexa”. Não se trata apenas de resolver problemas de matemática de segundo grau, escrever um ensaio, ou se preparar para um teste, mas também sobre resolução de problemas na Copene, ou Motorola, ou mesmo a preparação para o Carnaval do próximo ano. Estes são todos os “princípios” que os estudantes
descobrem na medida em que trabalham com PEI. Eu agora irei RESTRINGIR o meu interesse somente ao trabalho acadêmico de escola.

Os estudantes podem Ter dificuldades para entender o sistema numérico, especialmente os números inteiros (como é que você pode tirar um número negativo de um número positivo?), razões e proporções (operações com frações), probabilidade e estatística (quantificar possibilidades, aproximação, estimativa), notações algébricas (quanto é A + B?), conceitos de geometria, e depois, é claro, trigonometria, elaboração e compreensão de gráficos, resolução de equações, resolução de problemas com palavras. Eles podem Ter problemas na compreensão de metáforas, para encontrar a idéia principal de um parágrafo ou de uma estória, para explicar as diferentes ações de personagens, até mesmo para escrever e comunicar suas próprias idéias. Os estudantes podem Ter dificuldades para entender astronomia, química, a física de um átomo – porque essas são “realidades virtuais” para eles. O que podemos fazer com esses estudantes? A solução típica dada pelas escolas é o que denominamos “re-ensinar”. Quando isto não funciona nós simplesmente desistimos. Entender estes conceitos não é tão simples como colecionar e armazenar fatos na memória. Alguns destes conceitos e habilidades requerem que algumas operações cognitivas formais, que Piaget classificou no mais alto grau do desenvolvimento cognitivo do homem, sejam uma prioridade disponível para o estudante. PEI pode auxiliar em seu desenvolvimento.

Quando eles trabalham com um instrumento PEI denominado Percepções Analíticas, os estudantes desenvolvem a idéia da noção relativa de “parte” e “todo”. Eles estabelecem a ponte entre este princípio e a matemática, onde $ 75 representam 66% de $ 125 e, ao mesmo tempo, representa 150% de $50. Quando trabalhamos com estudantes utilizando um instrumento PEI denominado Relações Temporais, nós percebemos que até mesmo estudantes de segundo grau descobrem pela primeira vez como funcionam os sistemas de medição. Quando eles fazem Relações Transitivas e descobrem que se A + B = C + D (perceba a natureza simbólica) e A = C, então B = D, eles percebem que é logicamente correto subtrair as equações, como em

3Y + 5X = 39
E 3Y – 4X = 3

Em Progressões Numéricas eles traçam gráficos, e vêem equações lineares e não- lineares (nós as chamamos de progressões, porque têm valores discretos). Em Instruções eles aprendem a se expressar verbalmente de uma forma clara, completa e precisa. Nos instrumentos de Orientação no Espaço os estudantes analisam o frequentemente muito difícil processo de leitura de mapas, especialmente onde utilizamos sistemas de referência espacial que são diferentes de maneira intercambiável. Eu espero que vocês possam perceber que existe PEI em todos os assuntos das matérias, e todos os assuntos das matérias em PEI. Algumas vezes as pontes são implícitas no sentido de que apenas o processo cognitivo parece comum à disciplina acadêmica e à tarefa de PEI, por exemplo quando falamos sobre o planejamento de um processo complexo. Outras vezes as conexões são muito mais explícitas, como no meu exemplo de geografia. Apesar disso, professores bem treinados em PEI buscam essas pontes. Eu posso lhes dizer que eles sempre voltam buscando mais. O que é mais excitante a respeito dos nossos professores é que não apenas os estudantes, mas também eles encontram pontes em PEI para o aprendizado das diferentes disciplinas. Eles nos dizem que PEI os ajudou a se transformarem em professores melhores das matérias que ensinam.

Assim, como podemos assegurar que os nossos estudantes apliquem o que eles aprendem durante as lições de PEI? Em primeiro lugar, PEI é na verdade aplicável em diferentes momentos no futuro e em diferentes lugares, em áreas acadêmicas diferentes e em outros contextos, porque é sobre raciocínio, aprendizado e solução de problemas. Em segundo lugar, nós nos certificamos de que os estudantes aprendam bem. Em terceiro lugar, nós nos certificamos de que os estudantes analisem e entendam o valor do aprendizado PEI. Quarto, nós nos certificamos de que os professores saibam como conduzir os estudantes na construção de pontes que claramente estabelecem conexão de PEI com diferentes matérias.

 

6 Comments

  1. Nilva de Souza Monteiro disse:

    Muito interessante. Conheço o PEI de ouvir falar. Gostaria de acesso ao material. Como faço?

    • Marcia Marcionk disse:

      Olá Nilva! O material do PEI está disponível apenas para quem faz o curso de formação. Infelizmente não está disponível para compra e uso sem uma formação específica, porque o mais importante não são os exercícios em si mesmos, mas o processo mental necessário para a sua realização e a mediação do mesmo.

  2. MARIA DE LOURDES SOUSA disse:

    Sou uma professora da Educação Básica. Estou encantada com as teorias do Dr. Reuven por que me identifiquei muito com o trabalho que ele desenvolveu. Tenho muitas experiências de alunos com dificuldades de aprendizagem, pela falta do conhecimento não conseguia apenas com minhas práticas de ensino ajudar o aluno com baixo desempenho alcançar sua habilidades. Mais agora vejo que isso é possível pela teoria da modificabilidade e experíência da aprendizagem mediada! Sou uma entusiasta desse projeto de sucesso.

  3. Marcia Marcionk disse:

    Olá Maria de Lourdes! Realmente é muito importante ter uma teoria, metodologia e ferramentas práticas que possam nos auxiliar neste desafio de ajudar nossos alunos a superar as suas dificuldades de aprendizagem. Somos todos modificáveis!

  4. Aqui é a Amanda da Silva, gostei muito do seu artigo tem
    muito conteúdo de valor, parabéns nota 10.

    Visite meu site lá tem muito conteúdo, que vai lhe ajudar.

  5. Rodrigo Silva disse:

    Que legal…!!
    Esta foi uma visita excelente, gostei muito, voltarei assim
    que puder… Boa sorte..!

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